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Skol e Hati, os lobos deuses gêmeos da mitologia nórdica |
É interessante observar juntamente com o desenho das cartas, a simbologia dos números. O número dois representa a dualidade, a complementaridade. O um, que era o potencial, o único, o todo, foi dividido.
A divisão daquilo que era uno é semelhante ao processo de tomada de decisão sobre algo em nossas vidas. Antes de tomarmos a decisão, tudo é possível. Imagine a seguinte situação: Eu tenho uma quantia X de dinheiro, e ela pode comprar uma televisão ou um videogame ou um sofá, ou uma geladeira, ou uma viagem breve, entre tantas outras possibilidades. Enquanto não existe uma finalidade acertada para o dinheiro temos o potencial de ter todos os itens citados anteriormente, porém, sabemos que só podemos ter um deles. E quando se inicia o processo de decisão é que temos a dualidade. Quanto escolhemos usar este dinheiro para comprar, por exemplo, a televisão, automaticamente eliminamos todas as outras opções. Temos somente uma escolha dentro de um universo de possibilidades, ou como diziam os antigos, não dá para assoviar e chupar cana ao mesmo tempo, é preciso escolher.
A potencialidade morre no processo de escolha, e esse processo é mostrado pelo 2 no tarot. Não é ainda a escolha já tomada, mas o desenvolvimento da decisão que a precede. Repare que nas cartas do tarot que mostram a dualidade percebe-se algo de inatividade temporária, começando pela Alta Sacerdotisa. Ela está sentada, ela não fala; geralmente, de um lado da figura tem uma coluna clara, e do outro uma coluna escura. Seu símbolo é a lua crescente. Este arcano representa o processo de decisão em sua essência, o se recolher, não agir com precipitação, o maturar. Aquilo que antes foi um, cheio de potencial, no Mago, agora é 2, tal como a Lua crescente é um fragmento da Lua cheia. A virgindade que se opõe a fecundidade na lâmina da Sacerdotisa dará lugar à maternidade, no 3, na carta da Imperatriz. A dualidade nos naipes segue a mesma lógica, apenas com contextos diferentes.
O processo de escolha implica em polarização. Se escolho A, perco B. Temos então o positivo ou negativo, claro ou escuro, rico ou pobre, masculino ou feminino, etc. A própria lógica racional humana só é possível na base da comparação com seu oposto. O belo só existe em comparação com o feio, o grande só existe em comparação com o pequeno, o rico só existe em comparação com o pobre. Não é possível para a mente observar algo sem comparar, e isso é tanto bom quanto ruim (o que também é uma polarização). É bom no sentido que, através dessa lógica binária, a nossa espécie conquistou a natureza. Mas é ruim, pois acabamos por comparar fenômenos que não se encaixam nessa dualidade, geralmente comparamo-nos a outros indivíduos em termos bastante subjetivos sobre qual é melhor ou pior, e daí surge a inveja e o ciúmes, e toda sorte de mazelas emocionais.
A dualidade é começo de movimento. O que era único era também imóvel, mas ao se dividir cria movimento. Observe a imagem de uma célula se dividindo e ficará mais claro o que eu falo. Esse movimento, no tarot, geralmente é uma inquietação, um esforço psíquico para a tomada de decisão. O 2 é a dúvida em sua essência. A própria palavra dúvida é originária do latim, “dubius”, que significa aquele ou aquilo que está entre dois.
Até agora analisei o sentido do 1 para o 2, a divisão, porém existe o movimento contrário, do 2 para 1, que eu chamo de soma, de complementaridade, ou seja, uma das partes parece buscar a outra, para voltarem à unidade, mas elas precisam de algo que as ligue novamente, um catalizador, e isso só ocorrerá apenas no 3, que falarei em outra oportunidade.
A partir dessa observação fica mais fácil ver a dinâmica das cartas na leitura, aquilo que está se dividindo ou somando. Entre quais alternativas o consulente ou pessoa a quem se examina, se depara?! O que pesa na balança?! Qual o movimento?!
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