Um homem parece estar fazendo uma espécie de malabarismo com os dois pentáculos. Um de seus pés está firme no chão, o outro está no ar. O mar atrás de si tem ondas grandes, o que sugere altos e baixos bastante significativo. O movimento de manipulação dos pentáculos forma uma lemniscata, o símbolo do infinito. A tonalidade de laranja da roupa do homem sugere extremos, parte da roupa é de laranja vivo, parte é de laranja claro, dando certa harmonia visual. O chapéu do homem é pontudo, sugerindo um símbolo fálico. Os sapatos, assim como a linha formada pela lemniscata, são verdes, cor geralmente atribuída às cartas da terra.
Essa carta me dá a ideia de movimento cíclico, de uma tentativa de convívio com os opostos. Aquilo que era potencial no Ás de Ouros passa a querer se manifestar, mas é preciso deixar o uno. Porém, no 2 de Ouros, tenta-se tirar proveito da polaridade e do movimento que ela causa. Como exemplo prático temos a conhecida dificuldade de sair da cama quente no inverno, de manhã; sabemos que precisamos sair mais cedo ou mais tarde, de preferência mais tarde, mas não queremos deixar o conforto do colchão e das cobertas, então procrastinamos o máximo possível a saída da zona de conforto. E creio que essa seja a essência do 2 de Ouros; tentar conciliar o inconciliável, ou, para deixar mais claro: “enrolar” ou “empurrar com a barriga”. E isso pode parecer algo ruim a princípio, mas muitas vezes na vida é preciso ter certo “jogo de cintura” ou “dançar conforme a música.” Repare que a figura da carta parece estar dançando.
Uma vez tirei a leitura para um amigo, e ele me relatou uma situação um tanto “complicada”: Ele era casado a mais de 10 anos, com uma moça (Luíza), porém não a amava. Casara por um impulso, e também por conveniência, pois amava outra mulher (Cecília), e descobrira isso antes mesmo de casar, mas, para não arranhar sua imagem com seu grupo social (família, amigos, colegas de trabalho), e porque a sua noiva era bem vista socialmente, decidiu levar em frente o casamento. Pensara em manter Cecília como amante, mas ele não achava justo, e nem ela aceitou isso. Então nunca mais se falaram. Passados todos esse anos, meu amigo reencontrou a amada Cecília, e queria, pelo menos, manter uma amizade com ela, pois sentia muito sua falta, mas não queria abrir mão do casamento. Na leitura, o 2 de Ouros apareceu, e eu interpretei como essa vontade do meu amigo de tentar conciliar o inconciliável. Ele queria se reaproximar da amada, mas de uma forma que sabia ser restrita para ele, afinal ele tinha desejo por Cecília, e ao mesmo tempo queria manter seu casamento. Ele até poderia sustentar essa situação por algum tempo, como um malabarista, mas ele possivelmente não aguentaria eternamente. Talvez seu desejo por Cecília acabasse explodindo em algum momento, quebrando o frágil equilíbrio dessa situação que ele planejava.
Essa lâmina também saiu como símbolo de um partido, numa leitura sobre política. Eu interpretei como uma manipulação, como se tal partido estivesse tentando conquistar apoio com recursos que ele não detinha, mantendo uma base insustentável até conseguir a vitória nas urnas. E, da mesma forma, essa carta mostra o malabarismo que muitos fazem para pagar as contas; é muito comum pessoas atrasarem uma conta para pagarem outra, e no mês seguinte invertem, tudo para manter um padrão de vida que os ganhos não sustentam, seja por falta de oportunidade de maiores ganhos ou excesso de gastos.
O símbolo da Lemniscata, presente também em outras cartas, como a do Mago e da Força deste baralho mostram um lado mais profundo dessa lâmina, indicando que não se pode fugir do movimento do universo, por mais que se tente. O símbolo do infinito parece mostrar que existe sempre uma dança constante do universo, de avanço e recuo, criação e destruição. É a constante inconstância. É a dualidade da vida, o Yin e Yang. Ou, como sempre dizem por aí; a vida tem seus altos e baixos.
O chapéu em formato fálico e o contraste de cores sugerem uma impulsividade sendo contida pela calma, ou a serenidade e a letargia que seguem ao êxtase da atividade sexual, mostrando mais uma vez o ciclo do movimento universal.
PS: As histórias aqui contadas são reais, porém nomes e contextos estão embaralhados para garantir a anonimidade de meus consulentes.
PS 2: Quero deixar claro que esta é a minha opinião e não representa que o 2 de Ouros, do Waite tarot, seja exatamente isso que eu escrevi. Essas foram apenas as minhas percepções sobre a carta, obtidas através da minha experiência com ela. Cada tarólogo tem suas próprias impressões sobre as cartas, e, na minha opinião, observar outros pontos de vista ampliam nosso horizonte de percepção.
Boas leituras a todos.
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