domingo, 7 de agosto de 2016

Observando a lâmina da Roda da Fortuna do Waite tarot (Parte III)





Símbolo das Carmina Burana
Fortuna era a versão romana da deusa grega Tique, a deusa da sorte. Era ela quem governava o destino das pessoas, para o bem ou para o mal. Em algumas versões ela estava vendada, implicando que destinava benesses ou infortúnios (sem fortuna, sem sorte) sem ver a quem, da mesma forma que hoje dizemos que “coisas ruins” podem acontecer com todo mundo, independente de seu comportamento. Geralmente, junto à roda ela trazia uma cornucópia, da qual tirava as benesses.

Na versão medieval ela é vista como uma deusa caprichosa, que sobe e desce as pessoas na roda ao seu bel prazer. Mais adiante poderá se entender o porque disso.

A Iconografia mais usual da Roda da Fortuna se deve a ultima obra de Boécio, e seu trágico destino. Boécio era um senador, filósofo e teólogo dos últimos dias de Roma como império. Este homem havia conseguido influência política junto ao governante, Teodorico, o Grande. Tudo parecia favorecer a vida de Boécio, até que sua sorte deu uma virada radical, e ele acabou preso e morto por traição pelo mesmo rei que um dia lhe concedeu várias benesses. Na prisão, entre uma tortura e outra, Boécio escreveu a obra De Consolatione Philosophiae (Do Consolo pela Filosofia), em que reflete sobre como alcançar a felicidade num mundo regido pela volátil Fortuna. É possível que ele tenha sido o primeiro a cunhar o termo "Roda da Fortuna". A imagem clássica da Roda parece mostrar de forma estereotipada os altos e baixos da vida de Boécio; o seu esplendor como político renomado até a prisão.

Sua obra alcançou grande prestígio durante a idade média, uma época de bastante instabilidade, seja por conta de guerras constantes, doenças e/ou fome. Talvez por isso a ideia da roda da fortuna tenha sido tão popularizada. Séculos mais tarde surgiram canções originárias da região de Beuern, comumente conhecidas pelo seu nome latino; Carmina Burana. Estes escritos eram um conjunto de poemas e canções diversas, desde sátiras até dramas, retratando a vida medieval, e duas de suas canções que quero chamar atenção são as chamadas Fortuna: Imperatrix mundi (Fortuna, a imperatriz do mundo) e Fortuna plango vulnera (choro as feridas da Fortuna). Estas duas canções juntamente com algumas outras, foram adaptadas para música no século 20 pelo compositor Carl Orff, e ilustra muito bem a ideia medieval presente nas cartas da Roda da Fortuna. Abaixo deixo um vídeo da instrumentação destas duas canções, que vão até o minuto 6:39.