sábado, 6 de agosto de 2016

Observando a lâmina da Roda da Fortuna do Waite tarot (Parte I)

Na gravura da carta temos uma roda com alguns símbolos em seu interior; as letras, no alfabeto latino, mostram a palavra TARO, ou ROTA, que significa Roda em latim. As outras letras, em hebraico, significam Yahweh, o nome do Deus de Israel (י-ה-ו-ה). As inscrições entre os traços dentro da roda indicam os símbolos alquímicos enxofre, mercúrio, água e sal, correspondendo às propriedades gerais dos quatro elementos.

Atreladas à roda temos 3 figuras: uma Esfinge, no topo, segurando uma espada, uma cobra descendo e um animal antropomorfo subindo a roda, como se esta fosse uma engrenagem. Temos nuvens ao redor, indicando que a roda esta no céu; e tem também quatro figuras douradas, de asas, em cada extremidade da carta: um homem, uma águia, um boi (ou touro) e um leão. Todas as quatro figuras aladas carregam um livro.

A Roda da Fortuna é uma das cartas mais complexas, na minha opinião. Ela possui muitos elementos gráficos, e símbolos em mais de uma linguagem. Por isso, vou decompor toda a simbologia e experiências com este arcano, através de uma série de artigos, facilitando a compreensão. Neste primeiro artigo vou focar nas figuras atreladas à Roda: a Serpente, Anúbis e a Esfinge.

A serpente: Temos a cobra, símbolo do “pecado original”, que tentou Eva com o fruto da árvore do conhecimento, causando a expulsão de Adão e Eva do paraíso, o que representa a queda do ser humano de um estado de integridade com o todo para um de separação (a mente condicionada). Outra explicação para a serpente da carta é de que ela representa o monstro Tifão, que figura tanto na mitologia egípcia quanto na grega. Era considerado o deus da morte e da destruição no Egito, sendo identificado com Seth. O movimento descendente dessa figura na roda pode representar que tudo tem um fim, que a morte é inevitável. E quando digo morte, falo num conceito muito mais amplo do que a morte física .

Anúbis: Este ser, humano com cabeça de cão ou chacal, em laranja escuro, representa Anúbis, deus do mundo dos mortos no antigo Egito, principal responsável pelos processos de mumificação e julgamento das almas. Seu pai, Osíris foi morto pelo seu tio Seth, representado pela serpente, anteriormente descrita, o fazendo em pedaços por inveja. Sua tia Ísis e sua mãe Néftis buscaram e reuniram os pedaços do deus morto, e Anúbis, então, faz os procedimentos necessários para que ele retorne a vida, através da mumificação. Talvez por isso Anúbis venha representado no movimento ascendente da Roda, restaurando aquilo que foi destruído, trazendo ordem ao caos, regenerando a vida.

Seth e Anúbis, na Roda, representam o ciclo infinito de morte e vida, criação e destruição. O sobe e desce, a polarização do universo. Recomendo a leitura do artigo sobre o número dois para entender o conceito da duplicidade do universo.

A Esfinge: Esta figura parece presidir a Roda, como um juiz atento. No conto de Édipo, ela é a guardiã da cidade de Tebas, e lança um desafio a cada novo pretendente a entrar na cidade e desposar Jocasta: “Decifra-me, ou devoro-te”, e sua charada também invoca a mutação do homem através do tempo: “Qual animal que de manhã tem quatro pernas, ao meio dia , duas, e ao final do dia tem três?” Para alcançar a fortuna (boa sorte) é preciso compreender o tempo, é preciso compreender os enigmas da vida. Eu penso que a Esfinge mostra que a vida revela-se para quem não tem medo de decifrar seus segredos. Que a partir do momento em que se vence a Esfinge, livra-se também do movimento cíclico da Roda, passando a transcendê-la. Vida e morte passam a ser apenas duas faces da mesma moeda. Creio que até por isso a Esfinge carrega uma espada, que representa a verdade da vida. Só quando percebemos os nossos condicionamentos é que podemos nos livrar do eterno ciclo dos movimentos inconscientes e geralmente cheios de sofrimentos. A Esfinge também nos mostra para atentarmos para o mundo dos símbolos, que só através de desvendarmos seus mistérios é que conseguimos transcender, voltar ao estado de integração com o todo.

A Trindade: O nome de deus inscrito dentro da Roda e as três figuras sobre ela remetem à ideia da santíssima trindade; pai, filho e espírito santo. Por mais que sejam criaturas separadas, elas fazem parte de um mesma entidade, de um mesmo movimento universal. A ideia da trindade de deus está presente no evangelho de Mateus, que veremos no próximo artigo sobre a Roda.

Fontes:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Tifão
http://www.ocultura.org.br/index.php/Anúbis

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